O ex-presidente Jair Bolsonaro e outros investigados por tentativa de golpe de Estado têm depoimento marcado na Polícia Federal nesta quinta-feira (22).
Foram chamados para prestar depoimentos presencialmente na sede da PF, em Brasília:
Por estratégia da PF, todos investigados devem depor ao mesmo tempo. Assim, a polícia quer evitar que haja combinação de versões.
Haverá também depoimentos em outras cidades:
Os depoimentos fazem parte da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF há duas semanas. De acordo com as investigações, Bolsonaro e aliados se organizaram para tentar um golpe de Estado e mantê-lo no poder, impedindo a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Parte da investigação envolve a realização de uma reunião ministerial em 5 de julho de 2022. Nela, Bolsonaro diz a ministros que eles não poderiam esperar o resultado da eleição para agir. Os advogados do presidente afirmam, no entanto, que ex-presidente nunca pensou em golpe.
De acordo com a defesa do ex-presidente, ele deverá ficar calado no depoimento.
Nos últimos dias, os advogados pediram duas vezes acesso aos autos da investigação.
O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou o acesso aos mandados da operação.
Os advogados do ex-presidente pediram, então, acesso às mídias digitais, como telefones, computadores e a delação do ex-ajudante ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, mas Moraes não autorizou.
Foi quando defesa disse que o ex-presidente não iria falar à PF e entrou com pedido para adiar o depoimento, mas Moraes negou.
Nesta quarta, a defesa solicitou novamente acesso ao conteúdo das mídias. A alegação é de que é necessário "garantir a paridade de armas no procedimento investigativo".
Entre as provas usadas para embasar a investigação está a gravação de uma reunião de Bolsonaro, ministros e militares em julho de 2022, quando ele ainda era presidente.
Segundo a Polícia Federal, o então presidente da República exigiu que seus ministros -- "em total desvio de finalidade das funções do cargo" -- deveriam promover e replicar, em cada uma de suas respectivas áreas, todas as desinformações e notícias fraudulentas quanto à lisura do sistema de votação, com uso da estrutura do Estado brasileiro para "fins ilícitos e dissociados do interesse público".
Ainda de acordo com o documento da Polícia Federal, na reunião gravada, o então ministro chefe do GSI, general Augusto Heleno, afirmou que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais, mas adverte do risco de se identificarem os agentes infiltrados.
Nesse momento, Bolsonaro -- possivelmente verificando o risco em evidenciar os atos praticados por servidores da Abin, segundo a PF -- interrompe a fala do ministro, determinando que ele não prossiga em sua observação, e que posteriormente "conversem em particular" sobre o que a Abin estaria fazendo.
O então ministro do GSI afirmou de forma categórica que deveriam agir contra determinadas instituições e pessoas. E que uma virada de mesa deveria ocorrer antes das eleições.
"Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa, é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições. Depois das eleições, será muito difícil que tenhamos alguma nova perspectiva", diz Heleno.
Em outro momento da reunião, Bolsonaro diz que "o plano B, tem que botar em prática agora".
"Só pra gente prestar atenção. [...] A fotografia que pintar no dia 2 de outubro acabou, porra! Quer mais claro do que isso? Nós estamos fazendo a coisa certa, mas o plano B tem que botar em prática agora", afirmou Bolsonaro na ocasião.