A cidade de Tóquio sediará neste sábado (2) a edição de 2024 do Anime Awards, maior premiação da indústria de desenhos japoneses. O evento é realizado desde 2017 pela plataforma on-line de animes Crunchyroll.
Com investimento pesado em divulgação, a empresa tem trabalhado com o objetivo de popularizar o formato ao redor do mundo, para além de "Dragon Ball" e "Pokémon". Executivos avaliam que, fora do Japão, a maioria dos animes ainda é associada ao público infantil. A premiação é um dos esforços para tentar desconstruir essa imagem.
"Não dá para dizer que os animes fazem parte de um nicho, mas eles ainda não têm um fluxo super incrível. Estamos tentando descobrir formas de ampliar isso", diz Terry Li, vice-presidente executivo de negócios emergentes da empresa.
Séries, filmes, personagens, criadores, dubladores, músicos e outros profissionais do segmento são indicados em 32 categorias do Anime Awards.
Uma delas, a de Melhor Performance de Voz em Português, é voltada a artistas vocais brasileiros: concorrem Amanda Brigido (pelo trabalho em "Tomo-chan Is a Girl!"), Erick Bougleux ("Konosuba"), Guilherme Briggs ("One Piece"), Léo Rabelo ("Jujutsu Kaisen"), Luisa Viotti ("Chainsaw Man") e Vágner Fagundes ("Mob Psycho 100").
Todos os vencedores foram escolhidos por um corpo de jurados formado por jornalistas, críticos e profissionais do mercado de animes -- incluindo 10 brasileiros --, além da votação popular, encerrada em 28 de janeiro. Este ano, foram mais de 34 milhões de votos, um recorde para a premiação.
A dubladora Sally Amaki e o apresentador Jon Kabira vão comandar a cerimônia, que também terá participações da cantora Megan Thee Stallion e da atriz Iman Vellani ("Ms. Marvel"), entre outros convidados.
Conheça, abaixo, os três animes favoritos aos prêmios.
Lançada no fim de 2022, a aguardada primeira temporada de "Chainsaw Man" é líder absoluta em indicações, com 25. O anime é baseado no mangá escrito e ilustrado por Tatsuki Fujimoto, um fenômeno dentro e fora do Japão.
Cena do anime 'Chainsaw Men', um dos favoritos ao 'Oscar dos animes' — Foto: Divulgação
A história faz uma crítica sangrenta ao capitalismo e à máfia japonesa. O protagonista, Denji, é um jovem marginalizado e deprimido, tentando pagar uma enorme dívida de seu falecido pai com a Yakuza. Para isso, vende parte de seus órgãos e trabalha caçando demônios, até ser ele mesmo possuído e transformado numa espécie de homem-motosserra, personagem inspirado no clássico do terror "O Massacre da Serra Elétrica".
As referências cinematográficas estão em todo o anime: a abertura faz alusão a filmes como "Pulp Fiction", "Onde os Fracos Não Têm Vez", "O Grande Lebowski" e "O Chamado".
"Chainsaw Man" ganhou popularidade pela trama de conspiração, as cenas brutais de violência, o humor ácido e o teor sexual -- aos 16 anos, o protagonista é mostrado com hormônios à flor da pele, algo raro em animes.
A animação também é aclamada pela inventividade ao criar imagens absurdas: além do garoto com cabeça de motosserra, aparecem um tubarão voador de quatro olhos, um demônio em forma de tomate com oito braços, uma lesma cheia de músculos e outras criaturas bizarras.
Antes do lançamento do anime, o mangá de "Chainsaw Man" fez tanto sucesso no Brasil que ganhou uma tradução alternativa feita por fãs. A versão se disseminou na internet com piadas machistas, ofensas a minorias e palavrões, cortados na tradução oficial, usada como base para a dublagem do anime.
Um dos principais nomes da dublagem no Brasil, Guilherme Briggs, que interpretou o Demônio do Futuro no anime, foi alvo de ataques e sofreu ameaças nas redes sociais, por causa das mudanças no texto. Em resposta a um fã, ele chegou a dizer que pediria para abandonar o personagem.
Outro anime com demônios cercado por fãs devotos é Jujutsu Kaisen, cuja segunda temporada, lançada em julho de 2023, recebeu 17 indicações no Anime Awards.
Última temporada de 'Jujutsu Kaisen' recebeu 17 indicações ao Anime Awards 2024 — Foto: Divulgação
Adaptada do mangá de Gege Akutami, a história acompanha o jovem Yuji lidando com entidades sobrenaturais atraídas por sentimentos humanos negativos em sua escola. Possuído por um poderoso feiticeiro, ele embarca em uma missão para aperfeiçoar seus poderes, ficar mais forte e enfrentar maldições. Um típico anime adolescente de lutinha.
O mangá original de "Jujutsu" é publicado desde 2018 na revista japonesa "Shonen Jump", conhecida por popularizar outras histórias desse gênero -- entre elas, "Naruto", uma das mais famosas no Brasil.
Por compartilharem conceitos e até aspectos físicos dos personagens, os dois animes são frequentemente comparados. Alguns fãs chamam "Jujutsu Kaisen" de "novo Naruto", embora seja comum que animações japonesas de luta tenham estruturas narrativas semelhantes. Em "Jujutsu", também é possível identificar elementos de títulos como "One Piece", "Hunter x Hunter", entre outros.
"Jujutsu" se destaca pelas cenas de luta coreografadas e a qualidade da animação, que mescla desenhos tradicionais com efeitos especiais computadorizados. No entanto, a segunda temporada foi envolvida em uma polêmica quando, dois meses após o lançamento, funcionários do estúdio Mappa, responsável pelo anime, passaram a denunciar nas redes sociais a pesada carga horária de trabalho e o curto espaço de tempo para entregar os episódios.
O estúdio, conhecido por administrar vários projetos ao mesmo tempo (na principal categoria da premiação, o Mappa também concorre com "Chainsaw Man" e "Vinland Saga"), não respondeu às reclamações.
Correndo por fora com 10 indicações, "Bocchi the Rock!" conquistou fãs mais engajados de animes, que vão além das histórias de ação. A animação é baseada num yonkoma (mangá em tirinhas) criado por Aki Hamaji.
'Bocchi the Rock!' é outro destaque do Anime Awards, com dez indicações — Foto: Divulgação
A trama é centrada em Hitori, uma jovem com extrema ansiedade social que posta vídeos tocando guitarra na internet. Sua vida muda quando ela é convencida a entrar numa banda com outras três garotas de personalidades bem diferentes. A história se desenvolve mostrando os bastidores da formação de um grupo musical no Japão e a evolução da protagonista se abrindo para o contato com outras pessoas.
Lançado no fim de 2022, o anime de "Bocchi" é elogiado principalmente pela forma criativa como explora possibilidades para mostrar os episódios de fobia social de Hitori. Além da animação tradicional, são usados desenhos de quadrinhos, cenas com massa de modelar e até filmagens da vida real. O roteiro e os diálogos em tom de comédia fazem com que muitos fãs se identifiquem com os dilemas da protagonista.
A trama tem seguidores tão apaixonados que, após reclamações, as páginas oficiais do anime tiveram que pedir para fãs pararem de causar problemas nos locais reais que são mostrados na história no descolado bairro de Shimokitazawa, em Tóquio.
Em dezembro de 2022, a Kessoku Band, banda formada no anime, lançou um álbum na internet. O projeto com 14 músicas ficou em primeiro lugar por quatro semanas consecutivas no ranking semanal de álbuns digitais da Oricon, empresa que divulga as paradas musicais no Japão.
Fonte: Da Redação com g1