O terreno escondia, em área residencial, um grande depósito de lixo a céu aberto, como revelado pelo Correio na última quinta-feira (14/03). Para limpar a área completamente foi necessária uma intervenção de quatro dias das equipes da Vigilância Ambiental em Saúde e do DF Legal, e o trabalho de membros do Projeto Mãos Dadas, da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seape/DF).
A vistoria no espaço só aconteceu devido ao acompanhamento de uma assistente social. A profissional da Secretaria da Saúde (Ses/DF) intermediou a comunicação entre os agentes e o morador do terreno que, a princípio, resistiu à abordagem.
Quando as equipes chegaram, o acumulador ameaçou envenenar-se para não deixar ninguém entrar.
Hérica Marques, coordenadora da ação da Vigilância Ambiental em Arniqueira, acompanhou o trabalho desde o início e relata que a situação sensibilizou os envolvidos.
"Falamos para ele que todo mundo estava ali tirando um tempinho para ajudar.
Não só ajudar a população que está preocupada, mas, naquela situação, foi positivo poder se sensibilizar também com o acumulador, dar dignidade a ele. Foi uma situação, talvez, constrangedora para ele no início, mas positiva.
Os vizinhos ajudaram, todo mundo interagiu", disse.
Portas de ferro, painéis de vidro, rodas, peças de motores de carro, galões, latas de tinta, madeira, colchões, geladeira e máquina de lavar velhas faziam parte da montanha de entulho depositada no quintal de Fernando* (nome fictício).
Das 70 toneladas de material retiradas, somente de recicláveis, como garrafas pet, latas de alumínio e ferros, foram recolhidas três toneladas.
"O objetivo era revender, segundo ele, mas ficou muito tempo parado e aquilo cresceu de uma maneira espantosa.
A assistente social fez todo o trâmite com centros de reciclagem para recolherem o material", ressaltou a chefe da vigilância.
O valor arrecadado foi entregue ao dono do lote.
"A limpeza toda foi até segunda-feira (18/3).
Na terça-feira (19/3), a administração regional terminou de recolher as bags com os recicláveis.
Foi feita a lavagem e passagem de UBV costal na rua (nebulizador de combate ao Aedes aegypti). Agora, vamos esperar até a próxima terça-feira (26/3) para fazer a desratização, porque identificamos roedores no terreno dele", explicou Hérica.
Na casa de Fernando não foi encontrado nenhum foco de dengue, de acordo com a vigilante. No entanto, o lixo avolumado instaurava outras pragas na quadra, como relatou a vizinha Marta Menelau Gracindo, de 54 anos, no primeiro dia do mutirão.
"Meu grande amigo o rapaz acumulador, ele é maravilhoso, mas ou é ele, ou é a gente. Não é só foco de dengue (que me preocupa), o único bicho que ainda não vi aqui é escorpião, mas tem lacraia, rato, barata demais ", afirmou, na semana passada.
O lixo acumulado anteriormente não se restringia à residência de Fernando, ficava, também, em caixas de madeira cobertas com lona no canteiro central do conjunto W.
Marta observou que a situação afetava os vizinhos, apesar da boa relação que mantém com o amigo. "Ele é muito organizado, cuidadoso, ele cuida dessa rua inteirinha, ele varre, poda, faz tudo que se possa imaginar por nós, mas Não foi por falta de pedir (a ele que retirasse o entulho), sempre pedimos, principalmente por causa desse lixo aqui (no canteiro). Costumávamos ficar aqui, sentados, conversando, a vizinhança inteira, agora não podemos mais por causa dos insetos", relatou.
A limpeza do lote e do canteiro da QS 11 proporcionou um recomeço para a vizinhança e, principalmente, para a vida de Fernando, conforme destacou Hérica.
"O seu Fernando (sic) até cortou o cabelo, fez a barba. Repercutiu tanto a situação, pela imagem que saiu, que os irmãos dele (de Fernando) foram lá para acompanhar, colocaram a mão na massa e ajudaram. Houve um pouco de revolta, mas foi um start de alguma forma", concluiu.
Fonte: Da Redação