Como diz o editor do quadro Visão de Jogo, o ótimo Gustavo Abraão, Flamengo e Atlético-MG protagonizam a maior rivalidade interestadual do futebol brasileiro.
Mas como essa história começou? Por que dois clubes de estados diferentes têm relação que lembra duelos entre grandes times de um mesmo estado?
A história remete aos anos 1980. Flamengo e Atlético-MG tinham grandes equipes, nas quais brilhavam dois dos maiores jogadores do Brasil: Zico e Reinaldo. O Galo tinha sido campeão brasileiro em 1971, e o Flamengo ainda não tinha títulos nacionais.
Em 1977, o time mineiro perdeu o Brasileiro para o São Paulo, nos pênaltis. O torneio nacional daquela temporada foi disputado por 62 times, com três fases classificatórias e uma etapa final. As vitórias valiam dois pontos, e o Galo chegou à decisão com o São Paulo tendo somado dez pontos a mais. Era um timaço, com jogadores do porte de Toninho Cerezo, Heleno, Marcelo Oliveira.
Reinaldo, com a incrível marca de 28 gols em 18 jogos, não jogou a final por estar suspenso. Até hoje os atleticanos reclamam da data do julgamento, que tirou o Rei da decisão. Com o genial Rubens Minelli no banco, o São Paulo, que tinha um time menos técnico, mas muito competitivo, amarrou o jogo e conquistou seu primeiro Brasileiro nos pênaltis. Mas a base daquele timaço atleticano seria campeã mineira em 1978, 1979 e 1980, reforçada por jovens craques como Éder Aleixo e o goleiro João Leite (que já havia jogado a final de 1977).
O Flamengo tinha uma geração jovem e talentosa encorpando o time no final dos anos 1980. Brilhavam Zico, o maior da história rubro-negra, o lateral-esquerdo Júnior, o volante Adílio, e o meia Tita. Além de craques com mais rodagem como o lateral Toninho, o atacante Cláudio Adão e o volante Paulo César Carpegiani. O treinador Cláudio Coutinho havia comandado a Seleção Brasileira na Copa de 1978.
O Rubro-Negro vinha do tricampeonato estadual entre 1978 e 1979 (foram disputados dois torneios no mesmo ano). No Brasileiro de 1979, era apontado como favorito, mas foi eliminado pelo Palmeiras, treinado por Telê Santana, numa histórica goleada por 4 a 1 em pleno Maracanã.
Flamengo e Galo protagonizaram aquela que considero a maior final da história do Campeonato Brasileiro, a de 1980. O Galo eliminou o Inter, campeão invicto de 1979, na semifinal. O Flamengo passou pelo Coritiba. No primeiro duelo das finais, no Mineirão, sem Zico, suspenso, o Flamengo viu brilhar Reinaldo, autor do gol da vitória atleticana.
A segunda partida aconteceu no Maracanã, em 1 de junho. Um espetáculo de futebol, protagonizado por Zico, Reinaldo e coadjuvantes de luxo. O Flamengo fez 1 a 0 com Nunes e Reinaldo empatou. Zico fez 2 a 1 para os cariocas e Reinaldo, jogando com uma lesão muscular, empatou novamente. Nunes fez o gol do título para o Flamengo, a oito minutos do fim. Além de Reinaldo machucado, o Galo teve três jogadores expulsos e mesmo assim resistiu bravamente.
Os rivais se reencontraram na Libertadores de 1981 e após dois empates por 2 a 2 e igualados também na pontuação do grupo, um jogo de desempate foi marcado para 21 de agosto de 1981, no Serra Dourada, em Goiânia. Antes de a bola rolar, ferveu o jogo dos bastidores. O Galo queria jogar no Morumbi, em São Paulo. O Flamengo queria o Maracanã, mas sugeriu o Serra Dourada, em Goiânia. A Fonta Nova foi oferecida pela Federação Baiana. O Atlético-MG vetou o árbitro paulista José de Assis Aragão, e o Flamengo não quis o carioca Arnaldo Cezar Coelho.
Os dirigentes da Conmebol e da CBF decidiram que a partida seria em Goiânia, com o árbitro carioca José Roberto Wright e os auxiliares paulistas Oscar Scolfaro e Romualdo Arpi Filho.
Nervoso e autoritário, Wright não soube controlar o jogo, que se desenrolava violento e catimbado. Cinco jogadores do Galo foram expulsos, entre eles Reinaldo. Em entrevista muitos anos depois, Zico afirmou que duas das expulsões foram injustas. Com apenas seis jogadores em campo, o Atlético-MG não tinha como seguir pela regra, e o jogo foi encerrado. O Flamengo foi declarado vencedor e conquistaria a Libertadores daquele ano.
Foi o estopim para a explosão da rivalidade. Os atleticanos fizeram de Wright inimigo público e não engolem até hoje as oito expulsões em dois duelos decisivos contra o rival. Os flamenguistas, para provocar, dizem que a rivalidade só existe por parte do Atlético-MG, e que o time do Flamengo era melhor e venceria de qualquer maneira.
É um jogo especial para as duas torcidas.
A final de 2024 tem ingredientes que lembram os duelos dos anos 1980. Principalmente pela quantidade de grandes jogadores envolvidos. Pelo Flamengo: Gérson, Arrascaeta, De La Cruz, Gabriel, Bruno Henrique, Pulgar, Rossi. Pelo Galo: Hulk, Paulinho, Scarpa, Arana, Battaglia.
Até a bola rolar, em 3 e 10 de novembro, as histórias dos anos 1980 serão lembradas em Belo Horizonte, no Rio e no Brasil inteiro.
Fonte: Da redação/CNN