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Moradores da Zona Oeste do Rio dizem que são obrigados a pagar taxas para traficantes e milicianos ao mesmo tempo

Pelo menos 14 comunidades da região deixaram de ser dominadas pela milícia e passaram para o controle do tráfico. Contudo, moradores relatam que precisam pagar taxas para membros dos dois grupos criminosos.

Por J1 em 19/03/2024 às 08:43:17

Os moradores da Zona Oeste do Rio convivem com confrontos entre milicianos e traficantes na região há pelo menos dois anos. Durante esse período, cerca de 14 comunidades deixaram de ser dominadas pela milícia e passaram para o controle do tráfico.

Diante de tanta opressão e violência, moradores de algumas dessas favelas afirmam que sofrem abusos cometidos pelos dois lados e que precisam pagar taxas para traficantes e milicianos ao mesmo tempo.

"É absurda a exploração que já existia e agora triplicou. Porque o povo está tendo que pagar dos dois lados. Na Muzema, é tráfico e milícia. Tem que pagar para o traficante, tem que pagar para a milícia", comentou um morador que não terá sua identidade revelada.

Preocupados em perder seus territórios, os milicianos passaram a explorar ainda mais os moradores que ainda estão sob seus domínios.

Em Rio das Pedras, por exemplo, último reduto da milícia na região, já existe até a "inflação da bandidagem". Muitos moradores consideram que morar na região ficou "insustentável".

"Se não bastasse a sacanagem que já se faz, né, que a milícia faz com o morador, que é de tomar, tomar, tomar, e numa falsa de segurança que tá sendo provada que não existe e nunca existiu, o tráfico também tá vindo numa vertente muito pior. O Estado ele assiste. Ele não combate, ele é omisso. É incrível ver a ineficiência da polícia", reclamou um morador.

"É morte todo santo dia. São pessoas sendo expulsas, perdendo suas casas, perdendo um patrimônio que lutaram a vida inteira pra ter. É vergonhoso", completou.

Enquanto isso, os moradores dizem que as autoridades de segurança só atuam com medidas paliativas. Eles dizem estar abandonados.

"É triste, triste, muito triste. Infelizmente, é algo que parece o fim dos tempos", lamentou.

Tráfico avança na Zona Oeste

Desde os anos 1980, grande parte da Zona Oeste do Rio de Janeiro é dominada por grupos de milicianos. Essa realidade vem passando por transformações nos últimos dois anos, quando bandidos da maior facção criminosa do estado passaram a invadir comunidades da região.

Durante essa guerra, o Comando Vermelho (CV) conseguiu dominar muitos territórios que eram controlados por milicianos e atualmente estão perto de fechar o que eles chamam de "cinturão do tráfico".

A estratégia do grupo criminoso é consolidar o domínio em favelas estratégicas para que a facção possa controlar a região e ter fácil acesso a área de mata. O objetivo é ter mais opções para fuga e esconderijos.

Os chefes do CV também acreditam que o "cinturão do tráfico" é a melhor maneira de escapar de possíveis operações policiais na região, já que a área de mata também liga a Zona Oeste a áreas como a Grande Tijuca, e os bairros de Quintino e Água Santa, na Zona Norte, regiões dominadas pela mesma facção.

Mapa do crime

Atualmente, pelo menos, 14 comunidades historicamente dominadas por milicianos são comandadas por traficantes. São elas:

  • Santa Maria
  • Teixeiras
  • Covanca
  • Bateau Mouche
  • Barão
  • Chacrinha
  • Chácara
  • Quiririm
  • Tirol
  • Quitite
  • Araticum
  • Jordão
  • Banco
  • Muzema

A invasão mais recente aconteceu na Muzema. A favela que fica no Itanhangá, ficou em guerra por meses. Em janeiro de 2023, o RJ2 já mostrava que milicianos e traficantes disputavam o controle do território com tiroteios e mortes.

Em dezembro do ano passado, milicianos e bandidos do Comando Vermelho entraram em confronto novamente. Na ocasião, paramilitares tentaram expulsar os traficantes para assumir o controle da comunidade novamente.

Na última semana, na região conhecida como Teixeiras, que fica na Taquara, traficantes jogaram uma bomba de fabricação artesanal na direção de PMs, durante uma operação policial.

A guerra entre tráfico e milícia também persiste em outras regiões da Zona Oeste. Tiroteios são frequentes na Gardênia Azul, na Caixa D´água, que fica no Tanque, Colônia - Taquara - e no conjunto César Maia - em Vargem Pequena.

Rio das Pedras

Há alguns anos a milícia que nasceu na Zona Oeste vinha em grande expansão na cidade do Rio, mas atualmente, pelo menos na Zona Oeste, sua atuação está restrita a Rio das Pedras.

No local, que é considerado o berço da milícia no Rio, moram cerca de 200 mil pessoas. Todas elas sob as ordens dos milicianos.

"O tráfico foi vindo, foi vindo, foi vindo, e hoje dominou. Só tem o Rio das Pedras. O Gardênia é tráfico, de Muzema em diante é tráfico, só Rio das Pedras que ainda não é", disse um morador que não terá sua identidade revelada.

Ordens da cadeia

Na madrugada do último domingo (17), houve mais um assassinato em Rio das Pedras. O crime teria ocorrido por desavenças.

Fontes do RJ2 disseram que a ordem para matar o homem partiu de Tailon de Alcântara Pereira Barbosa, um dos chefes da milícia de Rio das Pedras. Ele está preso no Complexo de Bangu.

Tailon foi preso pela Polícia Federal dias depois da execução de três médicos em um quiosque, na Barra da Tijuca. Na ocasião, um dos médicos foi confundido por traficantes do Comando Vermelho com Tailon.

Durante pouco mais de três meses, Tailon esteve em Bangu 1, onde estava incomunicável. Contudo, ele acabou transferido para a Cadeia Pública Joaquim Ferreira de Souza, de onde voltou a comandar a milícia de Rio das Pedras.

Tailon foi preso em casa em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes — Foto: Reprodução / TV Globo

Tailon foi preso em casa em um condomínio de luxo no Recreio dos Bandeirantes — Foto: Reprodução / TV Globo

O pai dele, Dalmir Barbosa, preso no mesmo dia, também é suspeito de chefiar a milícia.

Cessar-fogo não avança

As lideranças dos dois grupos criminosos em guerra tentaram iniciar um diálogo para por fim ao conflito permanente na Zona Oeste do Rio.

Porém, o clima de rivalidade e o histórico de mortes de ambos os lados não permitiram que a negociação tivesse um desfecho positivo para os moradores da região.

O que dizem as polícias

Em nota, a Polícia Civil informou que tem investigações em andamento para identificar e prender os criminosos da região e que faz operações para descapitalizar e enfraquecer os grupos criminosos, além de apreender armas.

Já a Polícia Militar informou que o Batalhão de Jacarepaguá tem feito operações frequentes na região e que conta com roteiros de rondas para evitar a prática de crimes na área.

Fonte: Da Redação

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