A Justiça da ParaĂba mandou soltar, nesta segunda-feira (25), o pastor Péricles Cardoso de Melo, investigado por estelionato após um golpe de cerca de R$ 3 milhões contra fiéis em uma igreja de João Pessoa. O juiz Antônio Maroja Limeira, autor da decisão, entendeu que não existem mais fundamentos para a manutenção da prisão preventiva de Péricles. O pastor foi preso em 1Âș de novembro de 2023.
Além de mandar soltar Péricles Cardoso, o juiz também extinguiu o mandado de prisão contra a esposa dele, Vânia Francisca de Macedo Melo, que também é investigada no processo, mas que nunca tinha sido presa.
Para o juiz, não existe nenhuma indicação de que em liberdade os dois tentarão intimidar ou corromper testemunhas ou ou dificultar as investigações criminais e o andamento do processo. "A conclusão é que não subsiste o alicerce que motivou a decretação da custódia preventiva, nem hĂĄ demonstração da existĂȘncia concreta de fatos novos ou contemporâneos a justificar a necessidade da manutenção do decreto de prisão", afirmou o juiz nos autos.
O Ministério PĂșblico da ParaĂba (MPPB) se colocou contrĂĄrio à revogação da prisão preventiva e apresentou um acréscimo à denĂșncia, para inclusão de 11 novas vĂtimas. O juiz ponderou que possĂveis omissões da denĂșncia inicial podem ser sanadas a qualquer tempo, antes da sentença final.
Uma das vĂtimas de golpes de pastor em igreja de João Pessoa falou à TV Cabo Branco — Foto: TV Cabo Branco
Além de estelionato, o pastor também é investigado pelo crime de apropriação indébita. Mais de 30 vĂtimas de golpes foram identificadas no inquérito. A congregação onde ele era pastor também foi vĂtima de furto, estimado em R$ 17 mil.
Uma vĂtima do pastor evangélico deu detalhes de como acontecia o golpe, em entrevista O homem preferiu não ser identificado. Ele disse que o lĂder religioso pedia dinheiro para fazer reformas na igreja ou como doação para ele próprio. Mas desde o começo, ele achou estranha a forma como o pastor o abordou, pedindo contribuições para reformar a igreja.
"No começo achei estranho, porque ele chegou com uma maquineta, e aĂ disse "vocĂȘ passa o cartão aqui", a gente saca o valor e com esse valor vamos comprando material de construção, pagando a mão de obra, e as coisas iriam acontecer", disse.
A vĂtima disse que viu algumas reformas acontecerem, mas começou a desconfiar que se trava de um golpe quando, após pedir o cartão do fiel emprestado, o pastor atrasou o pagamento pela primeira vez.
"Eu perguntei o que aconteceu, o pastor disse que "houve um problema na maquineta, um problema com o banco, que não estou conseguindo sacar o dinheiro", algo mais ou menos nesse sentido. Eu achei estranho, mas ele era uma pessoa tão amigĂĄvel. Ele começou a chorar dizendo que não queria sujar meu nome", relata.
Com todos os cartões somados após os golpes do pastor, dĂvidas na casa de R$ 90 mil foram feitas apenas no nome dessa vĂtima, e a tendĂȘncia é de que os valores subam ainda mais por conta dos juros.
"Quando somou-se todos os cartões, era aproximadamente R$ 90 mil. Hoje, por conta dos juros, estĂĄ em torno de R$ 140 mil a dĂvida", disse.
"Ele ia fazendo novas vĂtimas, e uma coisa que ajudava muito era que ele pedia discrição. Dizia "olha, ajude seu pastor, não comente nada com ninguém". Na hora de aplicar os golpes, ele não poupou ninguém", conta.
No mĂȘs de outubro, o pastor divulgou um vĂdeo admitindo ter usado os cartões dos fiéis da igreja emprestados. No mesmo vĂdeo, ele alega inocĂȘncia, dizendo que "não fugiu e que não é ladrão".
"Eu fiz algumas coisas na igreja. Reformas, trabalhos, salas, auditórios e salas de mĂșsicas. Alguns irmãos emprestaram cartões e eu fui pagando. Tem cartões que hĂĄ mais de um ano eu venho comprando e pagando nas datas certas, até antes", disse.
Na versão do pastor, no entanto, ele diz que desde meados deste ano surgiram dificuldades para pagar os valores nos cartões de crédito dos fiéis.
A Assembleia de Deus na ParaĂba informou, por meio de nota, que Péricles Cardoso de Melo teria praticado crimes, como estelionato e furto, contra a igreja, congregados e pessoas próximas. Diante de evidĂȘncias apresentadas em uma reunião, o suspeito foi afastado das suas funções eclesiĂĄsticas.
Também informaram que foi aberto um procedimento disciplinar administrativo por parte da denominação Assembleia de Deus na ParaĂba, além de acionarem as autoridades competentes para apuração das denĂșncias.
Fonte: Da Redação