A delação feita à Justiça pelo ex-PM Ronnie Lessa, autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco e o motorista Andersom Gomes, baleados num carro, na noite de 14 de março de 2018, revela que a submetralhadora alemã HK MP5, usada no crime, foi entregue para a milícia de Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio. O grupo paramilitar, segundo Lessa , havia emprestado a arma para realização dos assassinatos. Segundo o ex-PM, a devolução ocorreu em abril, mês seguinte ao da dupla execução. A versão sobre o que teria acontecido com o armamento, nunca apreendido pela polícia, é diferente da que foi apontada na investigação feita pela Polícia Civil.
Responsável por investigar as mortes por cinco anos, a Delegacia de Homicídios da Capital seguiu uma linha dando conta que a submetralhadora foi jogada no mar da Barra da Tijuca. A versão foi contada por uma testemunha. Em depoimento na especializada, um pescador contou ter tido o barco contratado por uma pessoa de confiança de Lessa. E que a embarcação foi usada para jogar seis armas no mar, na altura das Ilhas Tijucas. Entre elas, estaria a submetralhadora. Já segundo a deleção feita por Ronnie Lessa, em abril de 2018, ele e o PM Edmilson da Silva Oliveira, o Macalé, intermediário da execução, e que acabou também sendo vítima de um assassinato em 2021, tiveram um encontro com Chiquinho Brazão, atual deputado federal, e Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. No fim da reunião, segundo Lessa, Domingos Brazão ressaltou que a arma deveria ser recolocada no lugar de onde veio, ou seja, devolvida para a milícia.
Assim, dois ou três dias depois, Ronnie Lessa e Macalé foram até Rio das Pedras. Segundo o relatado na delação, Lessa ficou no carro enquanto Macalé foi ao encontro de dois homens. Edmilson entregou a bolsa onde estava a submetralhadora a um deles, que a colocou no banco do carona de um veículo. Em seguida, o PM Macalé retirou os carregadores e foi até um córrego, localizado nas proximidades. Lá, jogou as balas (que estavam no pente da arma e que não haviam sido disparadas na execução de Marielle e Anderson) na água.
Segundo o relatório da investigação feita pela Polícia Federal, agentes da corporação estiveram no local para tentar localizar a munição dispensada por Macalé. No entanto, o trabalhou não obteve êxito, já que obras de desassoreamento foram feitas no local, seis meses antes da tentativa de resgate da munição ser realizada por policiais federais.
Ainda segundo o relatório da PF, apesar de não haver nenhum brasão no armamento, ele foi possivelmente desviado de alguma força de segurança pública.
O PM Edmilson da Silva Oliveira, o Macalé, foi assassinado por homens não identificados, em novembro de 2021. Ele também prestava serviços para a contravenção e seria ligado ainda ao escritório do crime, como são conhecidos pistoleiros que prestavam serviços para milicianos e bicheiros. Segundo Lessa, Macalé mantinha relação de amizade próxima com os irmãos Brazão, desde o início dos anos 2000.
A dupla é apontada na investigação da Polícia Federal(PF) como mandante da morte de Marielle. Já o delegado Rivaldo Barbosa, de acordo com o relatório da PF, teria avalizado o crime e seria responsável ainda por tentar obstruir a investigação do caso. Os três foram presos preventivamente, neste domingo. Eles foram transferidos para um presídio, em Brasília.
Fonte: Da Redação